A
globalização e os recentes acontecimentos da nossa história têm
colocado muitos países árabes e os muçulmanos na mídia. Com a expansão
do Islã pelo mundo, a imigração e as reversões, é normal que cada vez
mais sejamos abordados pela mídia para reportagens sobre o tema.
Estamos
no Brasil, um país multicultural e aparentemente aberto às diferenças.
Mas, infelizmente, a abordagem da mídia sobre nós por aqui ainda é muito
caricata e em busca do exótico. Mesmo no nosso círculo normal de amigos
e trabalho, quem nunca viu uma cara de espanto ao revelar que é
muçulmano? Quantas perguntas se seguem a esta revelação, enquanto outros
católicos/judeus/evangélicos não precisam ficar explicando nada sobre
suas respectivas crenças?
Se entre nossos amigos já
precisamos ter conhecimento para passar informações corretas e saber que
o que falamos poderá refletir na imagem que os outros têm de nossa
religião, imagina quando um jornalista se aproxima de nós e nossa
opinião será divulgada para centenas, milhares de pessoas?
Como
sou jornalista, vou compartilhar algumas técnicas que usamos nas
redações para tratar pautas e reportagens, e isso poderá ajudar caso um
dia você receba um pedido para entrevista em que o Islã de alguma forma é
abordado:
- Um jornalista, antes de procurar um
entrevistado, tem sempre uma pauta. É o tema sobre o que ele vai
escrever/filmar. Geralmente ele tem algo muito específico, como, por
exemplo, “´Por que muitas mulheres estão se convertendo ao Islã no
Brasil?”.
Então, antes de dar entrevista, pergunte qual é a pauta
específica, e lembre-se que você pode falar mil coisas, mas que o foco
vai ser aquele apenas.
- Quando jornalistas têm uma pauta
sobre comportamento, eles vão atrás de “personagens” que confirmem a
teoria dele. Então, lembre-se que você será usado para provavelmente
confirmar o que ele diz, no máximo, servindo para um contraponto (para o
jornalista se dizer imparcial, ele geralmente busca um que vai contra
pra colocar no final da matéria e dizer que “ouviu o outro lado”).
-
Confira se a pauta é condizente com a conduta islâmica e se não
abordará temas muito polêmicos e difíceis. É muito fácil para um
jornalista pegar apenas um pedaço do que você disse num contexto e
inserí-lo em outro bem diferente. Por isso, caso seja algo muito
polêmico, seja claro no que diz e sempre que precisar dizer algo que
possa ser muito polêmico, ressalte em que contexto isso deve ser usado.
Um
exemplo: Você está explicando todos os cuidados que o marido tem de ter
com a esposa, como é o casamento no Islã, o dote, etc. No final, o
repórter pergunta por que o Alcorão diz que o homem é superior a mulher.
E baseado em tudo que você disse antes você explica esta parte. Aí
chega a reportagem publicada e está apenas uma frase sua “sim, o homem é
superior a mulher”... e nada do resto que você explicou. O que as
pessoas vão achar? Que a mulher muçulmana é considerada inferior dentro
dos conceitos ocidentais, o que na realidade não tem relação nenhuma com
o que o Islã prega.
Se você não tem certeza da resposta de
alguma pergunta, não tenha vergonha de dizer que prefere não responder. É
melhor não dizer nada do que falar algo errado que pode denegrir a
religião depois. Se der, pesquise antes sobre os temas mais comuns que
perguntam sobre a religião, com um sheikh ou fazendo pesquisas, e será
mais fácil.
- Não se encante pelo jornalista legal. Se o
cara trabalha em grande jornal ou televisão, há sempre um encantamento e
muita gente é isca fácil. Ele pode estar tomando café com você, ou
mesmo sem gravador ou microfone, fazendo perguntas e falando da vida
dele, o que dá abertura para você falar de você. Isso tudo é “on” para o
jornalista. Ou seja, não se assuste se ele usou algo que você disse
numa conversa informal e que você não teria dito se não estivesse
pensando. Jornalista não é amigo, ele só está sendo legal para você se
soltar mesmo.
- No caso das mulheres com véu, cuidado
extra. É muito comum insistirem em perguntas pessoais e da sua escolha, o
porquê das roupas. No caso das convertidas, vão querer saber como eram
no passado. Se você falar de atitudes erradas no passado ou mostrar
fotos suas mostrando seu cabelo e com roupas curtas, poderá muito bem
ser exposta por algo que não é mais e ficar chateada, mesmo que tenha
sido algo sem intenção.
- Não é educado pedir para ler a
reportagem depois de pronta, a não ser que o repórter ofereça. Mas é
muito raro o profissional oferecer isso, por isso lembre-se das dicas de
antes e cuidado com o que fala.
- Por fim, se o
jornalista tem interesse de falar com você, tente aproveitar este
interesse e use a favor da religião. Divulgue informações positivas e
pacíficas, pois quanto mais nos expormos e ficarmos conhecidos, menos
preconceitos contra nós teremos. Acho que não devemos nos esconder ou
retrair, muito pelo contrário, mas utilizar as oportunidades que cada
vez mais irão aparecer em benefício do Islã.
Por: Marina
fonte: www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=8987974&tid=5479927620761583421
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